Enquanto jovens capitães marcham por Lisboa, durante a Revolução de Abril, o povo do bairro das Fontainhas, na Amadora, segue à procura de Ventura, que se perdeu na floresta... Cavalo Dinheiro é tudo menos “outro filme das Fontaínhas”. Pelo contrário, e mesmo se tudo o liga ao essencial da obra de Pedro Costa desde Ossos (e antes desse, a Casa de Lava, o filme “caboverdeano” que está na origem de toda esta série), é um “filme novo das Fontaínhas”. Se, por boas razões, de Ossos a Juventude em Marcha, passando pelas várias curtas-metragens que Costa foi fazendo com o mesmo universo, se tratava sempre de filmes “concêntricos”, geograficamente concêntricos, a primeira surpresa de Cavalo Dinheiro é o seu início, a sua abertura (com jogo de palavras e sem ele). A montagem de uma sequência de fotografias de Jacob Riis, retratando operários, biscateiros, sem-abrigo, da Nova Iorque de finais de século XIX, as casas onde vivem, os bares onde se divertem. Vemos vários Venturas... Mas também é o filme onde vemos Ventura na cidade...– é que nunca Pedro Costa foi tão cavernoso, tão cheio de subterrâneos, escadarias íngremes, corredores estreitos, reais ou criados a partir do trabalho da iluminação, já nos deixando a pensar no expressionismo no sentido da sua tradição cinematográfica, esse jogo com a projecção da interioridade das personagens a transmitir-se ao espaço circundante, a deformá-lo, distorcê-lo, defini-lo, inventá-lo. Cavalo Dinheiro é também isto, do princípio ao fim: um sonho, ou um pesadelo, de Ventura, onde nada (nem as outras personagens, como a espantosa Vitalina, primeira figura feminina depois de Vanda, ausente neste filme, a ser um “match” para Ventura) tem uma segura existência “real”, no sentido diegético do termo... São os fantasmas da história de Portugal dos últimos 40 e tal anos, da diáspora cabo-verdeana, da guerra, do 25 de Abril, do que aconteceu depois, do que ainda não deixou de acontecer...
Título Original: Cavalo Dinheiro
Ano de Lançamento: 2014
Direção: Pedro Costa
País de Produção: Portugal
Idioma: Português, Crioulo (Cabo Verde)
Duração: 103 min.
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